30 de janeiro de 2013

Viva o Contreras!

Os habitantes da cidade de Lages sempre tiveram o gosto apurado para a cultura e o lazer e traziam o que melhor havia na atualidade para o seu entretenimento. Tanto é que na década de sessenta, uma das orquestras muito requisitada para abrilhantar os bailes, era a famosa Orquestra de Waldir Calmon com seus 36 componentes que apesar do alto custo, não era problema.

O clube em que ela se apresentou foi o Clube 1º de Julho, situado há pouco menos de cem metros do centro da cidade. As mesas para o baile foram todas vendidas na semana em que antecedeu. A movimentação era grande.

Naquela ocasião, esteve na cidade um dos grandes circos internacionais, o Gran Circo Garcia, famoso por seus espetáculos variados de palhaços, mágicos, trapezistas, engolidores de espadas, leões, tigres e outros bichos que encantavam a platéia.

Na noite da apresentação da Orquestra Waldir Calmon, um sábado frio de inverno, também se apresentou o Gran Circo Garcia.

Por um descuido inexplicável até hoje, logo após a apresentação do espetáculo circense, os leões em número de oito, escaparam  de suas jaulas e foram conhecer a cidade. O primeiro susto que deram foi no vigia da empresa Corema, o pobre coitado ao avistar as feras, desandou a correr e as últimas notícias que tiveram dele foi de que estava próximo a Curitiba.

Um dos leões, o de maior porte, dirigiu-se para o centro, mais precisamente em direção ao  Clube 1º de Julho. Naquele instante seguiam na mesma direção também os dois amigos: Célio e Vilson que momentos antes tinham passado pelo bar do Marrocos e tomado umas e outras biritas. Há pouco menos de vinte metros do clube, os dois se depararam com aquela fera, tranquilamente perambulando pela calçada. A princípio custaram a acreditar no que viam porém com o urro da fera, o pensamento mudou e entraram correndo no clube aos gritos:

Tem um leão aí fora. Vamos até a orquestra para darem um aviso alertando o pessoal para que se cuidem. O bicho é maior que um touro!

Por estarem os dois amigos, visivelmente alcoolizados, e com a fama que tinham, o baile a todo vapor, e não fazendo sentido qualquer interrupção, alguém sugeriu:

Tranquem os dois na instalação sanitária, coloquem os dois no bacio e puxem a descarga, aplicando após um bom banho, acompanhado de café bem forte que certamente passará esta alucinação.

Pelo amor de Deus, o que estamos contando é a pura verdade, vocês precisam acreditar em nós. Gritava o Célio.

O Vilson quase conseguiu chegar até a orquestra, só não obteve sucesso porque o pessoal que acompanhava os fatos, não deixou.

Prometo para vocês que se não for verdade trocarei a cerveja faixa azul para a água mineral. Afirmou o Célio, já ajoelhado com as mãos em prece.

Diante de tal promessa, não restava outra alternativa a não ser, mandar alguém verificar a veracidade da notícia.

Qual não foi a surpresa quando foram atrás do leão e o encontraram a uns dez metros da portaria do clube, junto a calçada, maravilhado com o som do conjunto musical.

E agora? O pânico já começava a tomar conta e teria que ser estudada uma solução. Parar ou não a orquestra para dar um aviso? Na saída do baile quem seria o valentão a sair primeiro? Palpites foram muitos. Alguém sugeriu o nome do “Contreras“, possuidor de fama de bom domador de potrilho da Coxilha Rica, e outros quesitos mais.

Aprovado, procurem o Contreras, que deve estar no salão.

Chega o Herói. Apresentam-lhe o problema e como já havia tomado uma série de sambas duplos e com a lenta devidamente regulada, não foi difícil achar a solução. Saiu do clube, ficando frente a frente com o leão, encheu bem os pulmões e na maior calma, com seu super bafo, deu um tremendo grito para ninguém botar defeito. Ao coitado leão não sobrou outra alternativa, tomou outro rumo sob os aplausos da galera.

E o baile continuou.

Viva o Contreras!

12 de janeiro de 2013

Passeio pela Ilha de Santa Catarina

Angelita, Dulce e Alcione - 11/01/2013