A mocidade de Lages era muito criativa em suas aventuras, e uma delas, muito lembrada, era a da galinhada nos finais de semana, regada com muito vinho e estórias. Dividiam-se as tarefas na preparação. Uma equipe era destacada para a visita às residências dos companheiros, na observação dos galinheiros. A outra equipe preparava detalhadamente o plano de ação para captura das penosas. Era muito importante que os primeiros observadores ficassem bem atentos ao plantel para evitar os galos de 10 anos, comuns na época e difíceis para o preparo, fossem confundidos na hora da apanha.
A escolha das visitas aos galinheiros, na noite de sexta-feira, não foi difícil, e por unanimidade foi aprovada a residência do sr. Emiliano. O que pesou muito na escolha foi de terem constatado que naquela semana, o sr. Emiliano havia trazido do sítio umas galinhas crioulas, especiais para um bom ensopado.
A captura das penosas que anteriormente nunca havia tido problema, desta vez parecia estar tendo. Cizinho, o líder da incursão noturna ao galinheiro, quase desistiu. Havia sido alertado de que o cão de guarda estava do outro lado do terreno não tendo problema na operação. Só não o alertaram de que o sr. Emiliano havia trazido do sítio também um casal de gansos. E, foi aquele festival de barulho e por pouco não foi descoberto.
Naquela correria o pessoal da apanha, liderados pelo Cizinho, conseguiu a muito custo, levarem quatro penosas.
No sábado, durante o preparo do ensopado das galinhas, o assunto era um só: Os gansos! O sufoco que a turma passou.
Temos certeza de que o sr. Emiliano nos viu, pois percebi que a janela dos fundo da casa foi aberta e alguém gritou, disse o Luis Henrique.
É pura imaginação tua. Esfrie a cabeça. Na próxima, a turma de observadores terá mais cuidado. O importante agora é que ajudes o Estefano a cuidar do tempero da galinha que ele no sal, é mão pesada, resposta do Francisco para acalmar o pessoal.
Apesar do pequeno contratempo, a galinhada realizou-se mais uma vez num alegre sábado, acompanhada das bebidas.
Na segunda-feira, como de costume, a turma se reuniu na frente do bar Marrocos, e ficou num bate papo descontraído, e ao mesmo tempo apreciando a passagem das lindas mocinhas, como se nada tivesse acontecido.
Turma, olhe quem vem vindo! Disfarcem, olhem somente de “esgueio“, disse Estefano, já com o coração disparando.
Aparece a poucos metros deles, caminhando tranquilamente, como era seu costume pelas manhãs, o sr. Emiliano, dono do galinário. Esse passeio dele é diário, não há preocupação maior. Está tudo bem, vocês vão ver, palavras do Cizinho para acalmar o pessoal.
Bom dia jovens. Como vão? Disse o sr. Emiliano ao passar pela turma, olhando atentamente.
Após alguns passos, o sr. Emiliano parou, como tivesse esquecido algo, e retornou até o pessoal que nesta altura dos acontecimentos estavam paralisados de medo.
O sr. Emiliano, dirigindo-se para o Cizinho, com aquela cordialidade que lhe era peculiar, tirou um documento do bolso do casaco e entregou dizendo:
Tenho a impressão que esta “carteira de estudante“ que achei hoje pela manhã no galinheiro de minha casa é tua. Guarde-a bem!
E, prosseguiu sua caminhada, desta vez com um sorriso triunfante.